quinta-feira, 2 de maio de 2024

Chuva Eterna

 

Já chovia demais para ser apenas algo comum.

A reclamação virou indiferença, o som das gotas no teto, nas folhas, na cidade tornou-se o padrão.

Não via mais se quiser uma borboleta voando, mas o coaxar dos sapos estavam sempre ecoando.

Raios e trovões iluminavam constantemente onde antes assistamos ao pôr-do-sol.

Já não conseguia distinguir um rosto choroso de um rosto ordinário.

A alimentação mudou, o riso, as piadas, tudo o que éramos foi se transformando, uma parte a chuva foi levando e agora a gente começa a esquecer de como era antes e os fatos já não são contados da mesma maneira e a história vai se tornando apenas um fascículo da realidade.

Ao acordar na décima segunda lunação, um impacto forte apertou meu peito, era como se a verdade, por mais intangível que fosse, pudesse se materializar, ainda que de maneira viscosa ela mostrou um pouco do que era, e não era sempre bela.

Tudo ao meu redor tinha mudado e alguma forma de fim se aproximava e não era rápida e indolor como imaginávamos, era lenta e angustiava, se desdobrava, como o veneno que trafega da origem ao destino certo.

Não foram só os rios que encheram, nem os carros que deslizaram, nem os postes e nem as árvores que caíram.

Na dança das nuvens entre as gotas do tempo, o fim era sempre o mesmo, secos ou molhados, todos estavam fadados a sentir como a chuva podia levar o que ela queria e dessa vez, éramos nós.

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