terça-feira, 4 de novembro de 2014

Desplugado


Bastaria um dia em que o telefone não tocasse. 
Nenhum telefone tocasse.
Apenas um dia sem fios a fio.
Um dia sem sentir a radiação corroendo meus tímpanos.
Sem ser invadido pela imagem de um e-mail ou de uma televisão.
O dia em que internet não seria uma necessidade básica.
Um dia pra ouvir “eu te amo” no pé do ouvido, pra sentir aquele abraço apertado.
O dia em que sua imagem vai estar refletida apenas em meus olhos.
Saborear e não fotografar.
Bastaria um dia de paz, sem toda essa correria, sem a ânsia de expor meus  desejos e pensamentos, sem todo esse lixo visual.  
Sem toda essa informação. 
Um dia de entrega total.
Um dia imerso dentro de mim sem a interferência do mundo externo.
Um dia em que o único barulho a ser apreciado será o do vento nas folhas e das batidas do coração.
Um dia em que eu não vou ter que esperar por nada acontecer.
Ali sentado, apreciando a paisagem sem o pânico de imaginar o celular descarregado.

Totalmente “off-line”, “outside”, “unplugged”.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Força da Natureza Humana.



A vida é uma selva.  Acho que já disseram isso.
A vida é uma colmeia, tem mel, mas também tem abelhas com seus ferrões sedentos.
A gente paga um preço alto por querer mais da vida do que ela se dispôs a nos dar, se é um preço justo eu não sei dizer, mas estou aqui disposto a desbravar os quatro ventos, a remar contra a maré se for preciso, a despistar meus sentimentos quando eles me impedirem de dar o próximo passo.
Estou disposto a dar um sabor abstrato aos que se aproximarem e um tom de “não sei bem o quero da vida” aos que me perguntarem pra onde vou.
A vida é mesmo muito complexa e sei bem que eu não facilito com saldos e balanços constantes. Mas a necessidade infinita de não deixar a areia escorrer por entre meus dedos muitas vezes me paralisa. É que eu sei que a vida é muito mais do que a corrente de um rio e que minha intervenção na posição do sol poderá custar um futuro nublado e/ou tempestuoso.
Não dá pra perder, não mais, não hoje.  Hoje que a luz do sol não cega meus olhos, hoje que a chuva não esfria meu coração e que os ventos me trazem esperança e inspiração.

Farei desses dias, quentes ou frios, uma oportunidade de crescer e evoluir, sem deixar que as adversidades e forças da natureza humana possam me romper ou parar. Dedicarei meus passos descalços na terra a dividir a percepção que o mundo me traz, sem fantasiar flores onde não há, mas plantando sementes onde a paz e o amor ainda não germinaram.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Amor e Sonho

Eu só quero saber o porquê você vem me visitar quase toda noite?
Por que ainda perturba o meu sono e invadi as minhas ilusões?
Dessa vez, assim como em todas as outras, você me pegou de surpresa.
Lá estava eu, brincando e sorrindo quando de repente você surgiu, olhei da porta e você olhou fixamente para mim. 

Não disse nada. 

Não interagiu, apenas estava presente.
Logo eu que nunca mais me peguei pensando em você, que nunca mais fiquei triste por isso, agora estou aqui relembrando aquela cena sem motivo.

Eu sinto que te trancafiei em algum lugar dentro de mim, mas não lembro aonde e vira e mexe você escapa do meu calabouço improvisado e me visita em sonho, lugar o qual eu não tenho as chaves para sair ou para entrar.

Acordo triste.

Sinto em meu coração que mais uma vez nos conectamos e arde em mim à certeza da sentença, que é te amar nesta e em outras vidas, acordado e em meus sonhos.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Peregrino

Peguei cinco minutos do meu tempo e refleti:
Eu fico pasmo comigo mesmo. Essa minha religião própria  que cultua o pensamento individual como um todo, a vida numa singularidade sem ser egoísta. Uma divisão de um “ser” inteiro em tudo que ele é, acha que é, e pode ser.
Esse é o charme, essa instabilidade interior, essa mutação constante, essa sede de viver e aprender. Essa busca por conhecer a mim mesmo como ninguém jamais compreenderá. Eu nunca me acostumo, Nunca paro, Nunca rejeito um novo desafio.
Quando eu era um menino pequeno e bobo todo mundo pedia pra eu ser forte, parar de chorar tanto, tomar atitude, falar o que pensa, mas  quando eu cresci, muito mal conseguia deter a força interior, muitas vezes agressiva e rude. Sempre na busca de alcançar o que o mundo esperava de mim. Nessa balança desengonçada eu fui me acertando, lapidando os dados que recebia. E agora acabo de descobrir um pouco mais sobre mim. Não desse cara de óculos, básico e diplomático que você acha que conhece porque te disse algumas frases de efeito no momento em que era necessário. Eu tô falando do cara por trás dos óculos, segredos e desejos. Aquele peregrino interior que sabe esconder suas pegadas, seus sentimentos, suas fraquezas, aquele que se protege de si mesmo.  Aquele cara que te surpreendeu a derramar algumas lágrimas, mas que sempre chora sozinho.
Poucos sabem do treinamento de guerra que recebi e me sinto forte por ter ultrapassado todos os obstáculos e chegar aqui capaz de conseguir escrever mais de vinte linhas sobre mim, pois acredite, para maioria das pessoas é mais difícil do que parece.

A vida não nos permite bater de porta-em-porta explicando nossas mazelas e dores. São os nossos olhos que tratam de contar a nossa história, porém existem poucos nesse mundo capazes de fazer uma boa leitura. Então, ao invés de esperar pelo outro, eu resolvi ler a mim mesmo. Há tanta comédia, tanto drama, tanto suspense, e um pouco de pornografia se permite dizer. Nesse jogo experiente a gente só aprende com o tempo mesmo, a cada passo, a cada tombo, a gente vai se levantando, mais dolorido, mais machucado, porém mais forte e resistente. Os obstáculos tornam-se menores diante do gigante que a vida nos tornou. E então a grata surpresa de saber que somos felizes com a vida que temos. Mesmo com todos os erros e desilusões ficamos orgulhosos de nossa caminhada. Eu progredi, passei pra próxima etapa. Fiz o que tinha que ser feito e agora posso me sentir em paz.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Jangada

Ser mutável é uma arte.
Ora estar feliz, ora estar triste, e no instante seguinte sentir apenas fome, assim mesmo, nessa mesma velocidade desorganizada em que as palavras tomam forma nesse texto, as coisas simplesmente mudam de lugar.
É uma chuva de verão que nos pega de calças arriadas e sem guarda-chuva.
Não é nenhum pecado e nem bipolaridade. É apenas a certeza pra quem tem a liberdade de criar escolhas, saber que se pode mudar de cor favorita, de prato predileto e de filosofia de vida.
Não acuse quem muda de ideia, é que são muitas as ideias que surgem em minha cabeça e muitos sentimentos que se apoderam do meu coração.
Deus me livre viver na mesmice do esperado. Eu gosto mesmo é de reviravoltas, de mudanças repentinas, de surpresas. É dessa turbulência que minha alma se alimenta. Gosto do sabor daquilo que não foi pensado, nem desejado, muito menos planejado.
Mas vivemos numa sociedade que mantem um código que diz que ser mutável é sinônimo de ser volúvel, e que expressa falta de personalidade e caráter.
Mas quem foi que disse que a vida é cheia desses contratos, regras e linhas a serem seguidas?
Eu sou do andar ao contrário, da maré revoltada, da inquietação. Ando em curvas, na chuva, na ponta dos pés. Um EU vai pra frente e outro olha para trás, Um EU segue sem rumo e outro corre atrás. Eles nunca se encontram.
E eu pulo e berro, choro, desisto, dramatizo, jogo tudo para o alto e balanço outra vez, no momento seguinte, me acalmo, repenso, reflito, descanso, sem choro e sem grito, sem conflito e tento outra vez.



Não cabem muitos na minha jangada. É um lugar enjoado de se viver, mas daqui a paisagem me permitiu aprender a olhar pra todos os lados e encontrar sentido onde ninguém mais procurou. Faço poucas e breves paradas na viagem para encontrar o fôlego que preciso pra seguir. E lá vou eu remando mais uma vez na minha mutabilidade, Ora a maré está cheia, ora baixa, mas eu sigo remando sem deixar minha jangada virar.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Um lugar Estranho

Não é nada demais.
Não é nada que ninguém já não tenha passado.
Não é nada que me faça mais especial do que qualquer outro.
É algo meu e ninguém pode entender.
Talvez se você tivesse trilhado os meus caminhos.
Se tivesse sido ferido com os mesmos espinhos, aí talvez você pudesse entender que não é coração partido, nem uma dor que um médico possa curar.
Suponho que não seja nem uma dor.
Não estou falando só sobre o passado, nem tampouco do futuro, não é consciência de felicidade, nem tampouco sobre tristeza.
É algo no vácuo. Algo que não tem nome.  Algo que me incomoda, que toma conta de tudo, mas que não sei de onde vem.
É sentimento, eu suponho. Porque eu sinto. Porque eu ressinto que seja.
Vá tentar descobrir o que há na cabeça de uma pessoa cuja essas palavras possam invadir.
Alguém capaz de tentar desenhar uma sensação. Personificação.
E eu transbordo:
Dói, mas não me deixa chorar, e passa, mas não me deixa passar.
É um barulho silencioso.
E eu vivo disfarçando gotas que despencam do meu olhar e talvez não saibam se jogar.
É minha sina e minha cela, é minha reza, porque é quando tudo muda que mudar faz parte de mim.
Então caminho ao relento como uma palavra escrita numa carta qualquer, solta na frase e sem nenhuma regência.
Vivendo como uma pequena pedra no rio que não sabe seu sentido. A pedra ou o rio?
Como uma única nuvem tempestuosa em meio ao céu azul que fica flutuando e se espalhando, mas como se quisesse apenas se condensar.
Desculpe a minha confusão. É que eu escrevo pra mim, pra dentro, o que penso e o que eu sinto moram no limbo só meu, que é imperfeito e inventado.

Um lugar para pensar sobre tudo aquilo que não se pode falar; um lugar estranho, um lugar escuro, em que eu misturo tudo que eu não consigo entender.

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