terça-feira, 27 de maio de 2014

Jangada

Ser mutável é uma arte.
Ora estar feliz, ora estar triste, e no instante seguinte sentir apenas fome, assim mesmo, nessa mesma velocidade desorganizada em que as palavras tomam forma nesse texto, as coisas simplesmente mudam de lugar.
É uma chuva de verão que nos pega de calças arriadas e sem guarda-chuva.
Não é nenhum pecado e nem bipolaridade. É apenas a certeza pra quem tem a liberdade de criar escolhas, saber que se pode mudar de cor favorita, de prato predileto e de filosofia de vida.
Não acuse quem muda de ideia, é que são muitas as ideias que surgem em minha cabeça e muitos sentimentos que se apoderam do meu coração.
Deus me livre viver na mesmice do esperado. Eu gosto mesmo é de reviravoltas, de mudanças repentinas, de surpresas. É dessa turbulência que minha alma se alimenta. Gosto do sabor daquilo que não foi pensado, nem desejado, muito menos planejado.
Mas vivemos numa sociedade que mantem um código que diz que ser mutável é sinônimo de ser volúvel, e que expressa falta de personalidade e caráter.
Mas quem foi que disse que a vida é cheia desses contratos, regras e linhas a serem seguidas?
Eu sou do andar ao contrário, da maré revoltada, da inquietação. Ando em curvas, na chuva, na ponta dos pés. Um EU vai pra frente e outro olha para trás, Um EU segue sem rumo e outro corre atrás. Eles nunca se encontram.
E eu pulo e berro, choro, desisto, dramatizo, jogo tudo para o alto e balanço outra vez, no momento seguinte, me acalmo, repenso, reflito, descanso, sem choro e sem grito, sem conflito e tento outra vez.



Não cabem muitos na minha jangada. É um lugar enjoado de se viver, mas daqui a paisagem me permitiu aprender a olhar pra todos os lados e encontrar sentido onde ninguém mais procurou. Faço poucas e breves paradas na viagem para encontrar o fôlego que preciso pra seguir. E lá vou eu remando mais uma vez na minha mutabilidade, Ora a maré está cheia, ora baixa, mas eu sigo remando sem deixar minha jangada virar.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Um lugar Estranho

Não é nada demais.
Não é nada que ninguém já não tenha passado.
Não é nada que me faça mais especial do que qualquer outro.
É algo meu e ninguém pode entender.
Talvez se você tivesse trilhado os meus caminhos.
Se tivesse sido ferido com os mesmos espinhos, aí talvez você pudesse entender que não é coração partido, nem uma dor que um médico possa curar.
Suponho que não seja nem uma dor.
Não estou falando só sobre o passado, nem tampouco do futuro, não é consciência de felicidade, nem tampouco sobre tristeza.
É algo no vácuo. Algo que não tem nome.  Algo que me incomoda, que toma conta de tudo, mas que não sei de onde vem.
É sentimento, eu suponho. Porque eu sinto. Porque eu ressinto que seja.
Vá tentar descobrir o que há na cabeça de uma pessoa cuja essas palavras possam invadir.
Alguém capaz de tentar desenhar uma sensação. Personificação.
E eu transbordo:
Dói, mas não me deixa chorar, e passa, mas não me deixa passar.
É um barulho silencioso.
E eu vivo disfarçando gotas que despencam do meu olhar e talvez não saibam se jogar.
É minha sina e minha cela, é minha reza, porque é quando tudo muda que mudar faz parte de mim.
Então caminho ao relento como uma palavra escrita numa carta qualquer, solta na frase e sem nenhuma regência.
Vivendo como uma pequena pedra no rio que não sabe seu sentido. A pedra ou o rio?
Como uma única nuvem tempestuosa em meio ao céu azul que fica flutuando e se espalhando, mas como se quisesse apenas se condensar.
Desculpe a minha confusão. É que eu escrevo pra mim, pra dentro, o que penso e o que eu sinto moram no limbo só meu, que é imperfeito e inventado.

Um lugar para pensar sobre tudo aquilo que não se pode falar; um lugar estranho, um lugar escuro, em que eu misturo tudo que eu não consigo entender.

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