Normalmente quando eu escrevo faço o possível para extrair
do consciente as tristezas, amarguras e duvidas mais profundas da mente, sejam elas
minhas ou alheias.
Muitos são aqueles que questionam o fato da grande maioria
daquilo que é abordado nos meus textos serem de uma melancolia quase
rastejante.
Desafiam-me a escrever sobre coisas mais positivas e
encorajadoras. Mas o que eu tenho percebido ao logo desses anos é que a humanidade precisa mesmo que lhe
expliquem a sua dor, desenhem sua frustração, nós estamos tão hipnotizados com a luta pela nossa
sobrevivência, com a guerra diária no supermercado, com a lista de material
escolar, a manutenção do carro, com as nossas inquietações e insuficiências
amorosas que o brilho do sol nos passa despercebido frente ao seu calor
insuportável, que a chuva é sempre uma desgraça, num mundo em que a gente já
não sabe mais diferenciar o artificial do natural é extremante importante que
saibamos usufruir da nossa inconstância e tristeza, para que elas juntas possam
produzir a arte complexa que é viver.
Quando sentamos num divã tudo o que queremos é falar de
nossas mazelas e aflições. Estamos desesperados por uma resposta, uma rota.
Uma solução.
E nosso terapeuta simplesmente nos diz que a resposta que
procuramos está dentro de nós, mas aonde exatamente, pergunto aflito, como quem
procura um atalho mágico.
Na verdade, eu não sei o que seria de nós sem toda essa
lama, esse desgaste, sem todo esse medo do fim. A gente ama a luta, a dor, a
punição.
Essas misturas de emoções quentes e geladas, tão desconectadas e ao mesmo tempo tão homogêneas proporcionam ao
nosso corpo a dádiva de transcender e nos permite transbordar.