Todo mundo tem o direito de ir embora, de deixar para trás
aquilo que não o convém, mas nós pedimos, por favor, feche a porta devagar, com
aquela mesma educação e leveza com a qual entrou.
Não chute a porta como se nunca mais fosse voltar, como se
aquele tempo que passamos lá dentro não fosse importante para sermos o que
somos agora.
Não venha com esse papo de não olhar para trás, para não virar estátua
de sal. É preciso estar atento ao passado, ali estão lágrimas enxugadas,
sorrisos estrelados e muitos momentos que construíram um novo “Nós” e que deveriam
ser respeitados.
Não jogue essa chave fora, mas pode ir embora, somos livres,
embora muitos prefiram viver aprisionados a um destino solitário.
No momento em que a gente conhece alguém, a gente até
demora, mas dia ou menos dia a gente se entrega e se desarma e faz do nosso
coração uma casinha pra esse novo ser entrar, E respeita a bagunça que nos faz, os
pés no sofá, a roupa molhada pendurada no banheiro, o copo sujo na pia, a gente
aceita até sua partida, mas não bata a porta na nossa cara.
Um dia lá no futuro, quem pode saber? O passado pode fazer uma falta tão grande que tudo o que mais vai querer é um dia poder entrar novamente e talvez não
exista mais uma maçaneta, uma fechadura, apenas uma corrente entrelaçada, e você
estará sem chaves e sem esperança.