A gente queria parar o tempo e ele parou.
Não tenho muitas fotos da minha infância e nem vídeos com
meus primeiros passos, mas na virada do milênio os recursos para essa
finalidade se expandiram e não pararam mais.
Hoje, uma criança de 10 anos não encontrará muita
dificuldade ou quase nenhuma em ver sua biografia completa e em movimento se
quiser. Estamos registrados, fotografados e gravados de diversas maneiras e em
diversos dispositivos. Estamos esquartejados na rede.
Logo a gente que nunca se
sentiu completamente inteiro, agora ainda mais divididos.
Paramos o tempo com a nossa sede de registrar, viver o
passado, relembrar as conquistas e tentar manter seguro o nosso presente.
Áudios com nossos pensamentos, nossas fofocas e julgamentos
estão disponíveis para qualquer um ouvir, e se já não bastasse, adicionamos aos nossos hábitos a mania de
reouvir nossa própria voz só para ter a certeza de que a gente disse o que
queria dizer, parando o tempo estamos perdendo mais alguns minutos.
Mais pessoas podem nos ouvir e ver e ainda assim nos
sentimos incompreendidos, soltos no mundo, sem conexão. Na contramão, nossa
possibilidade de nos conectar com os mortos artificialmente aumentou. Num
futuro não muito distante ou talvez hoje mesmo já esteja acontecendo, em algum
lugar, uma mãe grudada ao celular, escuta os áudios do filho, assisti aos
vídeos dele publicado no Youtube, lendo seu blog ou até mesmo passeando por
suas fotos no Instagram, sem contar as “benditas” recordações do Facebook que
darão um prolongamento ao seu pesar, correrá o risco de adicionar mais tristeza
e dificuldade em seguir em frente. Não podemos seguir em frente e parar o
tempo, um anula o outro.
Paramos o tempo, mas ainda não sei se valeu tanto a pena. Perdemos
nossa privacidade, estamos expostos não só aos olhares curiosos em nossas redes
sociais, mas também a corporações que coletam nossas informações, analisando
padrões comportamentais e não temos ideias de como e quando poderão ser usadas,
ao nosso favor ou contra?
Que não tarde para que a educação acolha o novo sistema
e possa nos ajudar a lidar com essa era de informações e registros.
Num mundo de teclas e telas é preciso compreender que a
História é necessária para nos ajudar a viver melhor, mas a nossa capacidade de
criação é infinita e focar no presente é a melhor maneira de registrar nossa
presença nesse mundo.