quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Caverna


Todos nós estamos sujeitos a viver em nossas cavernas, escuras, úmidas e cheia de medos.
Nossas cavernas possuem nossos pesadelos mais sombrios, traumas de infância, amores não correspondidos ou mal correspondidos, o que é ainda pior.
A violência que sofremos, os medos que temos, dos mais bobos até os mais profundos vivem sempre a espreita, esperando um deslize nosso para se tornarem a nossa moradia constante e para que possamos chamá-lo de lar.
Uma vez que nossos pés estejam umedecidos pelo lodo, nosso corpo esfria instantaneamente transformando cada fibra do nosso corpo, cada pensamento, cada sentimento e cada ato num reflexo tendencioso de negatividade.
Passamos a pensar que merecemos ficar sozinhos e que o mundo, como sempre suspeitamos, estava mesmo contra nós.
Nenhum sorriso é verdadeiro, todas as lágrimas nada mais são do que o amor que está em nós escorrendo por entre nossos dedos cheios de calos.
Incompreensão, solidão, desistência, cansaço, raiva.
O tempo de repente passou a apontar o nosso fim, pois estamos velhos demais para mudanças, velhos demais para tentar algo novo, velhos demais para continuar vivendo. Começamos a carregar nossa pesada carcaça em direção ao desfiladeiro.
Nosso corpo começa mudar conforme nossos pensamentos e agora nosso peso desequilibrado começa a moldar quem nós nos tornamos, olhos profundos de tristeza escancaram nossa olheira.
A única vantagem é que estamos aonde tudo pode ser resolvido, dentro.
Dentro de nós podemos encontrar a luz que nos libertará, a luz que sempre esteve em nós, mas que no acúmulo de dívidas energéticas nos consumiram. A luz que a religião nos fez acreditar que estava fora de nós. A luz que a sociedade coberta por nuvens e conformidade nos fizeram acreditar que não temos direito. A luz que não vem da televisão ou do computador.  
A luz do conhecimento sobre nós e sobre o mundo que vivemos. 
Para sair da caverna precisamos saber que estamos na caverna. Precisamos saber que um mundo irreal foi construído ao nosso redor com o único motivo de nos escravizar, mas ao ampliarmos esta luz poderemos ver com a precisão de uma águia.
Uma luz em frente nossos olhos nos guiam a enxergar um mundo realmente natural com toda a sua beleza e todo o seu caos. Passamos a enxergar além de batons vermelhos e relógios de ouro. Passamos a enxergar além de um sorriso disfarçado e além de uma canção. Uma lente de aumenta nos atenta para um mundo de detalhes há muito esquecidos.
Agora, somos capazes de perceber as energias, capazes de escutar uma respiração ou a batida um coração, melodias abafadas pelo barulho da dor, da tristeza e da preguiça que nos adormece.
Uma vez que demos espaços para essa fresta de luz sentimos o calor natural reascender nossa chama interior e em nossa jornada passamos a lutar para mantê-la acesa. Muitos querem soprar nossas velas de aniversário e fazer nossos pedidos guiando nossa vida. Muitos querem se alimentar de nossas fraquezas  e angústias, mas a verdade é que o trabalho que nos espera neste dias é realmente para poucos, pois são muitos os que se debatem ao novo, anos em escuridão e seus olhos já não suportam a luz e o calor que emana do conhecimento. Trabalho e Calor nos impulsionam a descobrir as nossas próprias verdades, nos auxiliam a encontrar o nosso lugar no mundo e tem o papel fundamental de nos distanciar das cavernas de medo tão sólidas em nossas vidas cotidianas. 
Mas quem se permitir experimentar uma gota de luz, jamais cessará a busca pela fonte eterna, por mais distante que algumas vezes possa parecer. Levantará de todos os tombos que levar. Abrirá os olhos por mais dormentes que estejam. Amará por mais difíceis que os dias possam parecer porque entende que existe uma missão, que existe uma unidade e que todos nós estamos conectados a essa teia de amor e por fim voltaremos ao centro do mar infinito aonde esqueceremos toda a noção de escuridão.

Foto: Aldex Duarte - Janeiro de 2017 - Parque Lage - RJ

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