segunda-feira, 20 de abril de 2020

Um pouco mais


Primeiro eu comecei a te querer e depois a te querer um pouco mais.
Eu estava sempre lá, sempre procurando o seu olhar.
Um beijo num rosto totalmente invisível, um beijo tremido, sem cor.
Uma mão que soltava leve, envergonhada, uma mão que transpirava.
Para onde quer que eu fuja todos os vidros parecem embaçados e todas as nuvens meio abandonadas, ainda assim, elas seguem na estrada.
De tudo o que eu tinha, muito pouco ou quase nada me restou, mas não me arrependo nem por um instante por ter dado o que eu sou.
O que eu tenho cabe apertado no peito, não é sujeito e nem singular.
Eu não sou vítima desse amor porque escrevi cada linha com minhas palavras e com a minha dor.
O que era vazio antes permanece vazio agora e dessa troca não ficou só a solidão, ficou também o perdão.
E ainda hoje quando te vejo no espelho, me esbarro naquele sorriso, naquele mesmo frio que um dia me aqueceu.

Você quer saber o aconteceu comigo?

Você quer saber o aconteceu comigo?
A pessoa por quem eu me apaixonei se foi de uma forma que não tem como voltar.
Ainda desfila na mesma carne, mas não tem como ela voltar.
Sua alegria ainda ecoa dentro dos meus tímpanos e suas lágrimas continuam a escorrer no meu ombro.
Se eu fechar os meus olhos ainda consigo ver sua miragem, como num retrato preto e branco, aonde antes nunca faltava cor.
Comecei a ouvir os sons dos meus passos, isolados e dentro dos espaços fui diminuindo o som daquele amor.
Não me arrependo, nem pela dor.
Foram muitas guerras, muitos silêncios e ausências.
Um soldado honrado que mesmo com o escudo quebrado lutou até o fim.
Eu demorei a perceber o vazio e ainda sozinho, eu insisti.
Meu andar tornou-se lento, arrastado, o peito pesado de tão encharcado parou.
Um frio intenso surgia, os pés congelavam, as mãos suavam, e os olhos já não brilhavam, já não ardiam como antes.
Agora, os mesmos pés já não seguem a mesma direção.
Ainda lembro de sentir o contentamento num abraço tão apertado que me transportava noutra dimensão.
Eu ainda lembro de quando eu morava naquele olhar, na sua imensidão.
Você quer saber o aconteceu comigo?

Aconteceu comigo o que tinha que acontecer e eu precisei deixar ir para saber que foi melhor para mim e para você. 

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