Eu sabia
que era melhor ter ficado em casa.
Ninguém chega num baile de fantasia vestido de homem nu.
Quem vai entender esse protesto maluco que eu inventei de fazer depois de ter um lido um texto aleatório sobre as máscaras da sociedade.
Quem vai deixar de me julgar, se eu mesmo estou julgando a fantasia alheia?
Ninguém chega num baile de fantasia vestido de homem nu.
Quem vai entender esse protesto maluco que eu inventei de fazer depois de ter um lido um texto aleatório sobre as máscaras da sociedade.
Quem vai deixar de me julgar, se eu mesmo estou julgando a fantasia alheia?
Julgo
aquela menina sentada no bar, vestida de ovelha, representando a pura inocência
dilacerada pela cultura religiosa, dois goles e uma puta cara feia, mas beber é
tão legal, o sorriso, a coragem, uma injeção de álcool na chama quase apagada.
O lobo já
está na segunda rodada, sabe se lá do quê, o que eu sei é que este pode ser um
dos únicos momentos em que ele esqueceu o ego e entrou na pista de dança,
esqueceu os olhares, nem percebe que eu mal cheguei e já estou julgando.
Uma
balançadinha no corpo e outra no copo para fingir que estou no clima e passar
sem ser notado, assim como aquele cara vestido de palhaço, sentado no último
degrau da escada, mandando mensagem sem parar, sem saber, que na verdade
ninguém vai ler. Ler verdade.
A dona da
festa e sua fantasia de mulher decotada, costurada, remendada e borrada nos
chama para o brinde, se atropela em suas palavras vazias para uma plateia que
mal conhece e finaliza no automático, como se alguém tivesse espirrado. Saúde!
O garçom erótico
inclina as mãos na direção dela, sorrindo, encenando a famosa descida da escada
apoiada pelas mãos de um herói. Ele gosta desse papel e sabe que foi convidado
por isso, pela beleza, pelo símbolo que representa, nunca foi pela
prestatividade, poucos se importam com isso durante muito tempo porque sabem
que poucos são assim durante muito tempo.
O lugar
vai se enchendo enquanto vou me esvaziando, esbarrando nuns capetinhas, nuns
anjinhos, alguns heróis, alguns bandidos e dezenas de profissões.
Talvez eu
devesse ter bebido hoje. Talvez eu devesse ter seguido o conselho da minha mãe
e vestido a roupa de juiz do meu pai.
Seja um garoto normal!
Entrei naquele
banheiro imundo, poluído visualmente pela decoração, escondendo toda e qualquer
imperfeição das paredes, mas eu reparei, aqueles objetos orquestrados, aquela
sensação de isolamento, o reflexo no espelho.
Foi quando me olhei e vi ali diante
de mim o que durante toda a festa eu tentei esconder, mesmo nu, me achando o
dono da razão, os olhos estavam tristes e uma máscara na mão. Coloquei-a no
rosto molhado.
Quando eu
voltei, tudo parecia diferente, de novo eu me sentia gente, puxei a garota ovelha
para a pista de dança e percebi que o meu maior protesto era ser feliz.
Dançamos,
bebemos, rimos e voltamos para nossas casas, com a cara de metrô lotado e com o
gosto amargo do fracasso, mas uma vez tentei ser nu e voltei fantasiado.