sábado, 26 de junho de 2021

Esper(Ar)

 Ficamos sentados por mais tempo do que esperávamos, mas o mais angustiante era não saber porque estávamos esperando por tanto tempo.

Sentados, nossos rostos não conseguiam relevar simultaneamente o que pensávamos ou sentíamos. 
Juntos, mas não na mesma sincronia, ao lado, mas não na parceria, era um pouso solitário aonde  a única coisa que nos unia era a espera.
Passavam por nós e se nos notavam, fingiam que não. Fingir tinha ido tão longe quanto podia se imaginar, tão natural quanto correr, sobreviver se tornava uma das melhores maneiras de esperar.
Era o movimento esperado, ficar parado, esperando notar ou ser notado. Alguém que acabasse com aquela espera.
Alguém que dissesse: Moço! Pode levantar!
De todas as horas, a mais sincera parecia ser aquela, pela qual nós aguardávamos que acabasse. E como numa viagem de trem, soltasse, pulasse para outro vagão, continuava em espera por não saber a direção.
Continuamos ali, chacoalhando, de vez em quando nos encostando, mas profundamente ignorando nossa relação.
Num dado momento cansados de esperar, lentamente nos colocamos a observar um ao outro e numa linguagem silenciosa, melancólica e esperançosa decidimos nos aproximar e percebemos que juntos, não importa aonde se quer chegar, na companhia da verdade, a eternidade ainda é pouco pra esperar. 

sábado, 19 de junho de 2021

Ondina

Meus pés mal tocaram o chão e já sentiram novamente o tremor de não poder voar. 

Eu ainda lembro daquele dia em que o peso da dor, que eu achava que era amor, me derrubava outra vez. 

Estiquei-me, mas as pernas bambearam, era como esquecer de respirar e um passo de cada vez, tentando disfarçar a cicatriz e a insensatez de me deixar. Me deixar levar outra vez pelo medo, medo do calor, medo de tentar e tentando me segurar ao que já não fazia mais sentido eu me tornei abrigo e prisão. E nessa solidão eu me reinventei, despido das minhas asas e correntes, segurei num balão e novamente voei.


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