domingo, 2 de julho de 2023

Cometa

É bem provável que o futuro aconteça e me acometa uma continuação. Seja você quem for e onde estiver saiba que eu não quero subvalorizar a verdade, mas não posso negar que eu questiono a sua presença e a sua ausência. O que se apresenta aos meus olhos pode não ser um fato, mas eram os olhos que tinha para ver.

Aqui ainda estamos tentando lidar com a vergonha, um dos degraus mais baixos de frequência. 

O oposto do silêncio da procura. É o silêncio da loucura de acreditar na solidão. É o silencio do medo. Medo de ficar e medo de ir. Medo de contar e medo de descobrir. Medo de não haver perdão. Medo da rejeição. E se a gente olhar para trás consegue enxergar quantas vezes utilizou a palavra medo.

A gente saiu do mar, mas continua a nadar. Descendo e subindo como uma baleia a respirar. Me faltou até o ar. Mas não foi só no pulmão, foi no corpo todo e na mente também. A ideia e o pensamento ainda evaporam na insatisfação e o tédio e o trabalho aumentando a produção.

A verdade é um poder que pode ser usado tanto para o bem e quanto para o mal.

Aqui o tempo e a luz continuam se mostrando flexíveis entre os tons de preto e branco, de sépia, serpenteando entre o colorido e o negativo. Tem horas que a gente acha que já esta no futuro e em outros momentos parece que a gente deu só uns passinhos, para frente e para trás, nada demais.

E todo mundo junto continua convivendo, se aturando ou sobrevivendo. Em meio ao caos de tentar aceitar, compreender, ignorar e transformar. A gente ainda não sabe exatamente quando começou e nem quando vai acabar, e se agarra a qualquer coisa. A gente gosta muito de coisas. Coisas de todo tipo e pelo que tudo indica, sempre foi assim. 

As horas estão cada vez mais complexas, mais fracionadas e distribuídas entre datas, estações e promoções.

Mas daqui eu consigo ver o rastro que o futuro deixou, o rastro que eu sou, que nós somos. Passando mais uma vez.

Esse daqui, que um dia foi o futuro de alguém está um pouco decepcionado. Um cometa ilhado no universo das ilusões. Como fazer boas escolhas entre tantas opções? Como saber se é uma rosa branca ou uma rosa vermelha no meio da jardim? Como saber o que é de mim e o que passou a ser assim?

Me acorda, seria a única coisa que eu te pediria. Me acorda, mesmo que seja doída, mesmo que seja partida, me acorda dessa fantasia. Me ajuda a levantar e a enxergar, me deixa pintar, me permita entender se eu sou você esquecido no passado ou se eu sou o passado que você quer esquecer?

E tudo isso para te dizer que o tempo continua nos confundindo. Estamos presos a olhar para o ciclo. Passando próximo do sol, um corpo gelado gira e me encontra e confronta meus questionamentos, ora se apresenta eterno e hora se apresenta momento. É bem provável que o futuro aconteça e que ele seja um cometa, perdendo seus pedaços gelados pelo caminho, pelado e sozinho, assim como eu.

 


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