Olho para o relógio, são quinze e quinze. Agora, dezesseis.
O tempo me chama, e o nosso caso de amor parece estar sempre perto de acabar.
Às dezessete, minhas pernas balançam: é o poder de se transportar, de galho em galho, até quebrar.
Às dezoito, reviro a bagunça dentro de mim. Misturo as folhas, os frutos, as flores e as sementes, mas nunca encontro as raízes. Profundas e na escuridão, elas não permitem saber a razão de ventos tão fortes.
Dezenove.
Já próximo das vinte, me arrependo de ter contado o tempo, e, às vinte e uma, a dor irreal se torna material.
Às vinte e duas, vejo que perdi alguns números pelo caminho, mesmo segurando com as duas mãos.
Vinte e três é meu número da sorte, mas ele passou rápido demais.
Pedi que me acompanhassem, mas o momento era diferente, e a velocidade também. Para eles parecia um barco; para mim, parecia um trem.
Vinte e quatro, onde o começo e o fim se confundem novamente. Entre piscadas e passos, vejo o seu vestígio e o que fez comigo.
Olho para o relógio e percebo que nem vi o vinte e cinco passar. Nem deu tempo de te chamar.
Vinte e seis, e os segundos, tão frágeis, continuam o movimento. Continuam soprados pelo vento. Continuam sendo quem ele sempre foi: o tempo.